Estive lendo esses dias um um artigo no blog Ideias de Chirico falando sobre a prática de gravar áudios para depois transcrever em artigos de texto. O autor do blog fala que gosta muito de escrever mas sentia um bloqueio criativo e descobriu na forma de gravar áudios a solução para esse problema. Eu faço exatamente a mesma coisa já faz algum tempo. Inclusive, neste momento estou gravando esse texto enquanto dirijo do trabalho para casa.
Comecei a gravar áudios no ano passado na forma de um "diário de áudio" (em inglês, conhecido como "Audio journaling"). Sempre tentei manter um diário escrito mas nunca consegui incluir o tempo pra isso na minha rotina e nem criar o hábito de sentar pra escrever como foi meu dia. Eu escrevia um dia, passava três meses sem escrever... muita coisa acontecia e eu não registrava. Olho pra trás e me arrependo de não ter registrado alguns eventos do dia a dia de forma mais rica logo após terem acontecido (minha memória é uma merda). Olho pra trás e tem muita coisa que eu gostaria de ter registrado.
Na época eu também estava passando por um pior momento da minha depressão, me sentia muito triste e tive essa ideia de desabafar as coisas em áudio. E aí na época eu baixei um aplicativo de gravador de áudio para o celular e gravava os áudios no celular mesmo. Também não segui essa prática de forma tão frequente. Gravei poucos áudios em um ano, mas eu acho que já foi suficiente para ter alguns registros.
Esse ano, para intensificar o hobby e na tentativa de usar menos o celular, resolvi comprar um gravador portátil. Comprei um Sony ICD-PX240 (sinceramente, foi caro e não era necessário, foi mais um impulso consumista mesmo, mas nem me arrependo tanto pois adoro meu gravador. Em breve faço um texto sobre ele). Ando com ele para todo canto que eu vou, está sempre na minha bolsa. Normalmente eu gravo quando estou dirigindo mesmo, ou quando eu estou de plantão e tenho algum tempinho no repouso. Tem sido uma prática muito prazerosa (ainda venho tentando manter um diário escrito mas isso é tema pra outra postagem).
Sempre achei as ferramentas de speech-to-text automáticas um lixo. Pra entenderem minimamente alguma coisa necessitam que você fale super devagar e pausado, não entendem a pontuação, não entendem gírias e coloquialidades, não entendem palavras comuns... Mas descobri a Whisper AI, uma inteligência artificial da OpenAI (a criadora do ChatGPT) desenvolvida pra transcrever áudio em texto. E o que gostei muito dessa IA é que ela é de código aberto, sendo possível baixar o código no GitHub e rodá-la no computador de forma offline sem nenhum envio de dados. No meu Fedora, eu uso o aplicativo Speech Note (em flatpak) que funciona como uma interface gráfica pra Whisper AI.
E esse vem sendo meu fluxo. Gravo áudios no gravador, abro-os no computador e converto em texto usando o Speech note com a Whisper AI. Ficam com uns erros aqui e alí que necessitam de ajustes mas de forma geral funciona muito bem e me economiza bastante tempo.
No texto que citei no início, uma das coisas que ele cita como grande benefício do áudio, além de vencer o bloqueio criativo, é também o benefício da oralização dos textos, dando a impressão de ser uma conversa com o leitor. Isso é algo que sempre busquei nos meus textos, mas escrever com esse intuito não é tão fácil quanto falar. Gravando áudios "conversando com um gravador" a oralização fica mais natural e já pronta, bastanto apenas transcrever.
Outro benefício interessante é que gravando áudios, de forma descompromissada, muitas vezes acabo formando os argumentos ali mesmo durante a gravação. Algumas frases vão surgindo de forma espontânea, sem muito esforço cognitivo. Me lembra muito uma fala do Michael Scott na série The Office que gosto muito:
Sometimes I'll start a sentence, and I don't even know where it's going. I just hope I find it along the way. Like an improv conversation. An improversation.
--Michael Scott
As vezes eu tenho sim a sensação que alguns textos e parágrafos poderiam ser melhor escritos e os argumentos poderiam ser melhorados, mas, sinceramente, esse bloque é completamente informal e criei pra servir como um hobbie. Essa não é minha profissão e não acho que tenho nenhuma obrigação de ser nenhum grande escritor. Escrever aqui não pode ser algo maçante ou cansativo.